Apenas minhas letras insanas...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Pecado


Desligou o carro e hesitou por alguns instantes.Já o avistara,sentado nos
degraus da entrada da casa,no escuro,sozinho. Saltou,enfim. Fechou a porta
do carro,devagar.Não tinha por onde passar,ele bem sabia onde esperá-la,só
não sabia se ela voltaria aquela noite ou ficaria com o outro.Ela se aproximou
lentamente,os dois se encaravam. E ele a olhou como antes,como anos atrás,
quando aquele fogo proibido se acendeu e destruiu tudo à sua volta.Ela,então,
sentiu medo e júbilo,confusa e excitada pela idéia de reviver,de incendiar tudo
outra vez. Que se dane isso tudo! Deram-se as mãos,não precisaram falar nada.
Ela abraçou sua cabeça e ele desabou em seu colo,chorando. Sua boca procurou
a dela e sentiram o mesmo gosto de antes. E foi como se os anos não tivessem
passado,como se fossem os dois adolescentes descobrindo a vida,a luxúria, a
lascívia,a paixão. Mas amavam-se agora. Um preço alto a pagar.
Ela se desvencilhou e subiu para o seu quarto. Ele ficou novamente sozinho,
com o cheiro da mulher amada a lhe atormentar e a alma dilacerada pela culpa
e pelo desejo.
Em sua cama,olhando para o teto,ela esperou. Ouviu os passos do primo,sentiu-o
parado à sua porta. Mas ele prosseguiu. Foi em direção ao quarto de hóspedes,
onde sua esposa dormia,ao lado do berço do recém nascido.
A ela nada restou a fazer além de enterrar a cabeça no travesseiro e chorar a
saudade do que não viveu.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Imprecisas Impressões


Olhos, fugazes olhos
Mentirosos, cínicos, dissimulados
Deixa-me cega
Com sua luz incandescente
Paradoxo
Luz que vem das trevas


Palavras, dúbias palavras
Não entendo suas metáforas
Perco-me em sua ambiguidade
Não o decifro
Perturba-me, confunde-me
Diverte-se


Pois, então, deixa-me ir
Livra-me das suas amarras


Ou me ilumina...
Meu amor

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Conexão


Planava indolente
Do alto te avistei
Num vôo rasante te alcancei
Enganei o vento
Driblei as primeiras gotas de chuva
Só para ver teus olhos
Límpidos
Através da vítrea janela
E sorver teu sorriso
Que de tão franco
Fez-se translúcido

domingo, 11 de outubro de 2009

My Guy


Noir Cliché...


Ouvia Back to Black. Ajustava a meia de seda, negra, à
cinta-liga. Olhava-se no espelho, os cabelos, negros, em cascata.
Fartos. Assim como os seios que transbordavam, insinuantes,
para fora do soutien, negro, de renda. Jogou o vestido por cima
do corpo, deslizante, quase colado, negro.Uma fenda que se estendia
coxa acima e um decote generoso. O perfume e o batom, toque final.
O hotel e o quarto.
Tons de cinza transitavam entre o branco e o negro, onde
as únicas cores vinham da sua boca vermelha e do azul dos olhos dele.
Ele. Sentado, esperando, sorrindo. E ela caminhou feito diva, ajoelhou
sobre o sofá, agarrou-lhe a nuca e o beijou como nunca. E seus olhos,
negros, fundiram-se no azul e ela o quis, mais uma vez. E saciou-se dele
enquanto a fria pistola esperava, inerte, na pequena bolsa.
My guy. . .
Ganhou as ruas sem o vermelho da boca que deixara nos
lábios dele. E no quarto do hotel outro tom de vermelho escorria do
peito e o azul permanecia nos olhos, abertos, sem vida.
Back to Black.