Apenas minhas letras insanas...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Feixe de luz







Teu hálito quente
Na minha nuca
Denuncia tua presença
Etérea
Na noite escura

…meu doce espectro



So close to me…



***

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ascendência






Queria tanto pisar na terra em que pisaste
Colher os frutos que colheste
Banhar-me nas mesmas águas
Queria tanto ter com os teus
Que são também tão meus
Pois que me correm pelas veias
Queria tanto cruzar este oceano
Fazer de volta o teu trajeto
E encontrar a tua história
Para, assim, quem sabe
Entender melhor, a minha





***

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Poeta


O Poeta está no ostracismo. Está lá, metido em seus delírios.
Em monólogos ensandecidos, metido em seus devaneios.
O Poeta está no ostracismo, em diálogos com a Lua,
procriando versos lunáticos.
O Poeta está no ostracismo,
 pois o Poeta não se perfila.
Ora, veja!
O Poeta está no ostracismo, gritando para o nada.
Suas letras insanas voam e ressoam
pela abóbada da catedral cravejada de vitrais coloridos.
E, bumerangues, retornam.
Ricocheteiam na sua cara!
O Poeta está no ostracismo,
pois o Poeta não se limita
às mesmices.
Escreve para a borboleta!
Escreve para a mariposa…


… O Poeta tem alma de poeta!


O Poeta grita.
Quem escuta?
O Poeta é maldito!
O Poeta não se enquadra entre arestas.
O Poeta não segue caminhos fáceis.
O Poeta não se integra , não faz conluios.
O Poeta não joga!
O Poeta brinca…
O Poeta está no ostracismo,
 mas o Poeta não se importa.

O Poeta é o único que está vivo.




***

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Caminhada






Lembra da ruazinha de pedras, aquela vila de casinhas geminadas? Cada uma delas tinha um jardim na frente. Você gostava daquela que tinha uma roseira amarela. Você sempre gostou mais das rosas amarelas.
Agora, a vila é um estacionamento. Demoliram as casinhas, olha.
E eu nunca tive coragem de roubar uma rosa amarela pra te dar.
Lembra quando a gente ia a pé até a padaria só pra brincar com o Fiel? O vira-latas que vivia naquela casa bonita, colorida por mosaicos de azulejos portugueses que você amava! Lembra do Fiel? Ele corria no portão e fazia festa com qualquer um que lhe desse um pouco de atenção. E de carinho.
E desconfio que ele gostava mais de você…
Lembra daquela pequena loja japonesa? A, do fotógrafo? Ele colocava um mundo de fotografias dos clientes na fachada. E a gente ficava lá, um bom tempo, procurando um rosto conhecido. Nunca achamos um retrato nosso.
Olha, agora é uma lan house.
Ah, a praça…Era aqui que as quermesses aconteciam. Que saudade daquelas noites frias. Você me pedia para aquecer as suas mãos…Lembra?
Lembra do correio-elegante? E da música que eu te ofereci naquela noite de São João, quando você estava começando a namorar aquele garoto sem graça da sua rua? Lembra? Eu mandei Paul McCartney… “My Love”. Ah, você se derreteu.
Lembra?
As quermesses acabaram. A praça também. Olha, lá. Agora é um terminal de ônibus. Cheio de gente cansada, sofrida. Vê?
Tudo mudou por aqui.
E eu que estive tão longe, por tanto tempo.
Como eu lamento, meu amor, não ter vivido ao seu lado enquanto isso tudo acontecia.
Como eu queria acreditar que você está aí, me esperando. Confiante na minha redenção.
Como eu queria acreditar que você me escuta neste exato momento.
Mas não creio, não creio…



***

Foto do site:Olhares Fotografia Online
Autora:Adriana.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Vento Mistral



O vento mistral
Trouxe-me, hoje, você
Quando inebriou de lavanda
Meu amanhecer

Este aroma que é seu
Reavivou a memória
Aqueceu minha alma
Neste frio tão intenso

E as flores miúdas
Salpicaram as lembranças
De um lilás delicado
De tão belas matizes

Um sagrado momento
Um quadro encantado
Dotado de vida
Cores e cheiros

Meus sentidos atentos
Cúmplices do vento
Pintaram a tela
Traduziram você



***