Os olhos verdes, translúcidos.
De um tom que eu não consigo decifrar.
São vítreos, esferas de jade.
Brilham, brilham tanto!
E me conduzem, me levam por onde ela quiser.
Os olhos verdes, translúcidos.
De um tom que eu não consigo decifrar.
São vítreos, esferas de jade.
Brilham, brilham tanto!
E me conduzem, me levam por onde ela quiser.
Por aqui, tudo é muito colorido.
Terracotas e azuis.
Vermelhos e amarelos.
Verdes nos muros e nas árvores.
Multicores nos varais ao vento.
Rabiolas serpentinas riscando o azul do céu.
Caquinhos divertidos salpicando os quintais.
Quando chove, curioso, as cores se destacam.
Se brilham sob o Sol,
É quando a chuva acinzenta o dia
Que elas explodem atrevidas!
E as tardes findam compondo aquarelas
Às vezes são rosadas, outras, alaranjadas.
E tem aqueles dias em que tudo fica azul
Azulado feito Jodhpour!
Quem diz que minha terra é cinza?
Sim, eu ainda te amo, disse ela, enquanto botava alguns bibelôs na caixa de papelão. Eu ainda te amo, mas no momento eu te odeio mais.
Ele desviou os olhos cheios de culpa. Se pudesse voltar no tempo. Apenas três semanas atrás. Faria tudo diferente!
Olhou para ela novamente. Curvada sobre a caixa arrumando meticulosamente seus pertences preciosos. Se bem a conhecia, sabia que não sobraria espaço vazio. Tudo haveria de se arranjar harmoniosamente.
Não existem atalhos para Clarice. Nem nuances.
Apenas três semanas atrás. Faria tudo diferente?
Não.
Adeus, Clarice.
Aquele brilho intenso, dourado. Fruto do Sol batendo no alto
do prédio espelhado. Já fotografei tantas vezes.
Já fotografei tantas fases e faces da Lua.
Aviões e nuvens, céu de brigadeiro. Tantas e tantas vezes e
de todos os ângulos que eu pude perceber.
Uma mão segurando o queixo, a outra segurando a câmera.
Inerte.
E a tarde se vai sem deixar marcas.
Mas, felizmente, existem os periquitos.
Esses seres endiabrados que surgem verdejando tudo. Não
sossegam nem por um segundo. Uma algazarra sobre a mangueira frondosa.
A tarde finda, a luz se vai aos poucos.
E eu, finalmente, me divirto clicando furiosamente aquelas
criaturinhas barulhentas.
O saldo são dezenas de imagens abstratas, difusas,
desfocadas, esverdeadas. Lindo de se ver.
Graças a Deus existem os periquitos.
Graças a Deus...