Apenas minhas letras insanas...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Brilho Efêmero


  Silêncio. Concentração. Ela fecha os olhos, respira fundo e, então, abre seu melhor e mais belo sorriso. A música começa e o lilás salpicado de pequenos brilhos desliza e funde-se à brancura leitosa do gelo.
  Leveza e graça em movimentos que beiram o sublime.
  Corpo e música em perfeita harmonia, como se de dentro de sua alma saíssem as notas melodiosas.
  Desliza, irretocável. Abre os braços em frágil equilíbrio, veloz, parece voar. Dá o primeiro salto duplo, perfeito. Parece tão fácil!
  O público, hipnotizado, demora alguns segundos a reagir com merecidos aplausos. Em completo êxtase ela continua sua rotina de encantamento e, impondo mais velocidade, executa dois saltos triplos aterrissando em perfeito equilíbrio. A audiência delira, emocionada.
  Ela baila, então. Menina-mulher. Inocência e sedução.
  Percorre todo o ranking num footwork gracioso, desenhando suas figuras em "S".   A música torna-se ainda mais intensa e surgem as fantásticas piruetas, o lilás rodopia, rodopia....
  Nos últimos acordes, o último salto, o mais audaz.
  A queda.
  Um "Oh" em uníssono a ensurdece. Por alguns segundos não ouve nada, não vê nada. Nada sente.
  Mas a anestesia pouco dura. Ergue-se. Supera a dor. Retoma a rotina. Desliza e improvisa pois a música está acabando.
  Executa a última pirueta, feito um tornado. E estanca exatamente no último acorde. Perfeito.
  O público a aplaude de pé.
  Ofegante, ela sorri. Mas dos olhos, que nada escondem, rolam as lágrimas.



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