Nem mesmo durante as minhas caminhadas os meus problemas me
abandonam. Estão sempre me importunando, pipocando aqui e ali.
Desviando a minha atenção dos jardins coloridos pelas flores
de Inverno, da festa do cachorro, do cheiro de pão quente que exala daquela
velha padaria sempre à mesma hora.
Olho para o céu, procuro pelas nuvens que sempre me encantam
com sua impermanência. Mas nem sua beleza efêmera me alivia essa angústia muda,
travada.
O burburinho das crianças e adolescentes entrando no colégio
é um sopro de vida que tenta espantar esse medo não sei nem do quê. Mas esse
sopro logo se esvai, não resiste por
muito tempo.
Tento, então, pensar em nada.
Respiro fundo e sinto o vento gelado e cortante arder no meu
rosto.
E é nesse momento que você me vem à mente. Tão nítido como
um perfeito holograma. Por alguns segundos, apenas. Vejo seus olhos que guardam
tantos segredos. Seu sorriso contido, tão raro e, justamente por isso, tão
precioso.
Aí me percebo sorrindo também.
Só então me dou conta de uma pessoa se aproximando, já quase
passando por mim. Seus cabelos lembram as nuvens que tanto me encantam, suas
rugas me acolhem e me amparam. Ele me olha com tamanha cumplicidade e me diz:
Bom dia!
É fato, tudo melhora quando lembro que você existe!
***