Apenas minhas letras insanas...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Triângulo


Seus olhos negros,olhos negros...


Não estava atormentado,tampouco arrependido. Também não estava exatamente feliz. Aliviado,talvez,o descrevesse melhor.Sorriu.

Entrou no quarto escuro tentando não fazer barulho. Tirou a roupa toda enquanto a olhava,deitada,dormindo profundamente. Sentou-se na poltrona que era dela. Observou a silhueta que se desenhava por baixo dos lençóis,sabia-a nua,sempre dormiam totalmente nus. Admirava-a. Fêmea. Curvas.

Sorriu novamente ao tentar contabilizar quantas vezes já havia tomado aquele corpo para si. Não havia centímetro um do outro que não conhecessem.

Se ela pudesse entender,ele contaria. Incomodava-o,enganá-la. Quando viu Joana,porém,sabia que ia acontecer. Tão certo quanto o Sol se pôr.

Não fora a primeira vez. E não seria a última. Sabia do seu poder sobre as mulheres. E não resistia ao ímpeto com que algumas o caçavam. E aquele aro na mão esquerda que mais parecia atrair do que repelir. Mas ele bem que tentava,não era sempre que sucumbia. Há séculos estava sossegado. Até surgir Joana.

Joana e seus olhos,olhos negros. Joana e seu sorriso. Mais do que isso, sua gargalhada solta,safada. Seus peitos,lindos,que arfavam enquanto ela ria.

Ainda jogado na poltrona ,olhando para Mônica,repassou em sua mente cada minuto vivido há poucas horas. Podia quase sentir de novo em seu corpo, o calor da outra.Possui aquela mulher com tal selvageria,com tanta fome, quase com raiva. E ela pagou-lhe na mesma moeda,esfomeada. E como foi bom,não podia negar. Afinal,não era hipócrita.

Devassa...Mas não era sua linda Mônica,também,uma devassa? E só sua. Numa mesa de bar,entre amigos,um olhar mais demorado telegrafava tudo. Havia ensinado tantas coisas a ela e como aprendeu também! Como ela o surpreendia,às vezes. Nunca sabia quando ela o comeria,quase literalmente,senhora do castelo. Ou quando se deixaria possuir tão completamente,o que o deixava maluco,com vontade de virá-la do avesso. Nunca precisaram de joguinhos,apetrechos,nada além um do outro. Nutriam uma coisa rara,intimidade. E essa intimidade era o pilar,dali podiam tudo. E tudo faziam. Sem limites,sem regras,sem culpas,sem cobranças.

Então, por que Joana?

... porque sim.

Levantou-se,leve como pluma,deitou-se ao lado dela e a abraçou com ternura, envolveu um dos seu seios com uma das mãos,como sempre fazia. Adormeceu sentindo o perfume dos seus cabelos. Morreria por ela.

2 comentários:

  1. Que crônica maravilhosa K. Parece que estamos no quarto também! A descrição dos personagens está perfeita! Parabéns!!!

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  2. Muito bem, Kássia!
    Tem horas que não existe uma explicação politicamente correta pra uma situação meio torta.

    Gostei!
    ;)

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