Apenas minhas letras insanas...

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Caquinhos Vermelhos







  Eu me lembro do quintal coberto por caquinhos vermelhos, salpicados de preto e amarelo, aqui e ali. E me lembro das jardineiras perfumadas de flores e ervas. Da vassoura de palha pendurada numa parede, dos baldes de alumínio, do tanque de pedra e daquela torneira que parecia de ouro. E as cores eram tão vivas, realçadas pela luz do Sol que batia, plena, por todo o lugar.
    Eu tirava os sapatos e corria de braços abertos dando voltas e mais voltas! E tentava percorrer cada pedacinho como, se assim, eu pudesse levar comigo cada um daqueles caquinhos.
    E eu me punha a explorar os cantinhos, os tijolos quebrados do muro aonde se escondia um mundo de bichinhos esquisitos. As quinquilharias do meu avô, um monte de coisas e coisinhas que eu não sabia bem pra que serviam, mas eu as usava mesmo assim, inventando. E o silêncio, Deus! O silêncio que só era quebrado pelo chamado dos bem-te-vis ou pelo latido de um cão, lá longe.
    E enquanto o dia, lentamente, escurecia tudo ficava meio alaranjado, mais fresco e até os cheiros mudavam. Então, às seis horas, minha avó ligava o rádio para ouvir uma música bonita. Era sempre a mesma música. E eu já sabia que era tempo de ir embora.
    Era o meu reino, meu paraíso. E lá eu não queria brinquedo. Nem carrinho, nem bola. Nem gente.
    Era o meu canto secreto. O quintal de caquinhos vermelhos, que sobrevive apenas na minha memória. E no meu coração.



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