Joana pediu a Narcisa que lhe fizesse
um vestido verde. Adoro verde! É a cor da esperança! Narcisa deu um sorrisinho
maroto e disse:
- Esperança tem cheiro de terra molhada
de chuva.
Narcisa tinha mania de botar cheiro em
tudo.
O amor tem cheiro de morango miudinho,
dizia. A ternura cheirava à baunilha.
Para ela a raiva tinha cheiro de
amoníaco. E o rancor cheirava a sebo.
A alegria, para Narcisa, tinha cheiro
de pipoca estourando, quentinha.
O tédio cheirava à roupa velha, esquecida
no fundo da gaveta.
E a inveja, dizia Narcisa, exalava um
forte odor de carniça.
A tristeza tinha cheiro de rosa murcha
e a saudade cheirava a lírio.
Liberdade tinha cheiro de maresia. O
apego, cheiro de pão bolorento.
E assim Narcisa passou pela vida,
cosendo vestidos de renda, perfumando o caminho dos outros.
Quando chegou aos
noventa e dois anos Narcisa se foi desse mundo. E ninguém nunca
conseguiu explicar porque, em meio a tantas e diversas flores que lhe cobriam o
corpo dentro do caixão, dele se desprendia um doce e intenso aroma de alecrim.
É que nenhum deles
sabia que esse é o cheiro do céu.
***
maravilhosa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirObrigada!!
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