Apenas minhas letras insanas...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A arte de protelar




Parapeito
Ampara o peito
Prepara o leito
De morte
O piche bruto, indiferente
Bate seco!
Amortece a queda, não.
Amortiza a dor.
Ou não?
Nem sei se creio!
Será que receio
O fim?


…ah, me mato amanhã.




***

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O moleque e a pipa



Ele franze os olhos miúdos, driblando a claridade do Sol. Dá toquinhos na linha, descarrega, mergulha. A pipa está bem alta, o vento está bom.
Sorrateiramente, o inimigo se aproxima. Ótimo! O moleque gosta dum desafio.
A batalha começa, então. As pipas, como se vivas fossem, se bicam aqui e ali, ciscam pra lá e pra cá. As rabiolas, uma verde, outra vermelha; serpenteiam, sinuosas, no azul.
De repente, uma pipa bóia. Sai planando, rodopiando, fugindo.
O moleque sai em disparada. Corre olhando pra cima, saltando os buracos que sabe de cor.
Desce ladeira, pula o muro, atravessa a praça! Ligeiro! Anda!
Ele estanca e pragueja. Presa no fio de luz. A mãe proibiu de pegar… Volta devagar, aborrecido.
Mas logo está correndo de novo, saltando os mesmos buracos, cruzando a mesma praça!
Sonhando com as cores do papel de seda que vai comprar. Cola,vareta e linha! Lá na venda do seu Quinzinho. Põe na conta, tio!
Amanhã tem pipa, da cor do meu time!
Amanhã o Sol brilha de novo, apesar dos buracos da rua.




***

sábado, 25 de dezembro de 2010

Em tempo




Uma palavra basta. Ou duas.
Não precisa tanto, se acalma.
Respira.
O sangue cotinua a fluir pelas veias
As águas continuam a escorrer pelas pedras
O menino ainda brinca no quadrado de areia,
lá, naquela mesma praça
A noite ainda cai sobre os amantes
A Lua continua a orbitar nossos sonhos
O trigo se deita ao sabor do vento, ainda
..se acalma, respira
Não precisa tanto
Eu não vou a lugar algum.



***

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

"A gente não quer só comida"


O farol fica vermelho.Levanta-se da calçada e se põe à frente do reluzente carro preto.Começa seus malabares com três limões.Logo um deles escapa-lhe das mãos e rola,teimoso,prá debaixo do ônibus parado.Desiste de pegá-lo e vai pedir à janela do carro preto. O vidro escuro baixa lentamente e revela,pouco a pouco, um belo par de óculos escuros que escondem olhos que o menino não sabe para onde olham. A mulher lhe entrega um saquinho de papel com um grande "M"
estampado,dentro algumas batatas fritas,murchas. Ele espicha o olho prá dentro do carro e vê outro menino. Está brincando com o boneco de super-herói que veio de brinde.
O farol fica verde. Ele se senta,novamente,na guia da calçada. Come seus palitos de batata frita enquanto sonha ser o Super-Homem.



***

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Feito bambu



Eu te mandaria flores.E te afagaria.
E para ti ,as mais belas canções eu cantaria.
E das intempéries,te protegeria.
Seguros,os teus caminhos, eu tornaria
As tuas dores, eu compartilharia
E os teus sonhos, juro, eu realizaria

Mas escolheste outra via
E nem por um instante exitaste
Deixaste, de tristeza, um rasto
Tal qual um cometa nefasto
Mas, criatura, não te enganes
Eu até vergo … mas não caio

Pois vai, então, com Deus, meu amor
E leva contigo as pulgas!





***

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Chuvarada



Paro tudo para ver a chuva. À noite,então,espetáculo imperdível. E hoje,ela cai enfurecida. Ou seria,feliz da vida? Vem acompanhada pelo vento que tira as gotas pra dançar.Magnífico bailado iluminado pelas luzes da cidade. Melhor ainda quando vem em noite alta,avenida emudecida,quase deserta. Só o barulho da chuva,chuvarada… E dos trovões,relampejantes,poderosos e abusados. Raios partam a minha tristeza!
E o cheiro? Ah, o aroma da chuva! Aspiro este cheiro de vida, de terra molhada. E de onde ele vem? Dos tímidos jardins, dos minúsculos canteiros que sobrevivem cercados pelo cinza do concreto proliferante. Mas talvez ,também, venha de longe,muito longe. Trazido pelo vento forte que gosta de dançar com a chuva.
Chuva,chuvarada…Aos poucos,ela se acalma. Cai mansinha,extasiada. Como quem acaba de fazer amor..
Estendo,então,a minha mão e me despeço dela,levando comigo o seu frescor e agradecendo a sua graça.
Vou para a minha cama,inspirada pela chuva, em busca dos meus braços amados e percebo que,às vezes,ser feliz é muito simples.




...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Reflexões idiotas sobre o tédio.


Seria interessante discorrer sobre as grandes questões da Humanidade. Ou debruçar-me sobre o pensamento de Nietzsche,por exemplo, seu eu ,ao menos,o entendesse minimamente.
Mas minha limitada capacidade intelectual assim como minha prosaica experiência de vida,limitam-me a refletir sobre questões muito ou totalmente irrelevantes.
Como,por exemplo,entender o que leva uma pessoa a comer pudim de madrugada enquanto crava os olhos sonolentos na telinha sem prestar atenção ao que está assistindo e nem sentir o gosto do quê está comendo.

sábado, 6 de novembro de 2010

Instante


A água escorre pelo meu corpo
Está quente,muito quente
O calor me relaxa,conforta
O vapor confunde minhas formas
Penso em nada...
Enxáguo os cabelos,fecho os olhos
Vejo o rosto dele
Nítido,quase pulsante
Num flash,um instante
Luz refletida,imagem contida
Retida,na retina da mente...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dom Quixote Moribundo




Viu-se em Pasárgada,amigo do rei
Viu-se entre as pernas amadas
Viu-se entre nuvens e vagas
Soberano navegante.
Viu-se à frente da batalha
Viu-se destemido comandante
Viu-se herói,samurai,
Cavaleiro errante!
Viu-se marciano,astronauta
Viu-se alquimista
Argonauta!
Viu-se hercúleo,gigante
Viu-se Apolo
Viu-se infante…

Viu-se no espelho
Nos olhos,o ínfimo brilho
No peito,derradeiro suspiro.

sábado, 16 de outubro de 2010

Meu doce espectro...




"Sorrir,bailar,viver,sonhar contigo..."




E num felicíssimo caso de esquizofrenia bem sucedida,viveu e sorriu,bailou e amou,sofreu quando quis!
Por Deus, morreu feliz!!!

domingo, 3 de outubro de 2010

Presentes!!








Recebi estes selos do amigo Arnoldo Pimentel e repasso a todos os amigos que me visitam e deixam o seu carinho! E aproveitem para para visitar os blogs do Arnoldo e conhecer sua encantadora poesia!





beijos!!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Moonlight


Quando adormeces em meu colo

tão menino,sereno

Embevecida fico

Pelo fascínio do teu belo rosto

A Lua,ciumenta

Resplandece inteira

No intento de te ofuscar

Tola,não percebe

Que seu despudorado luar

Só faz tua beleza

Ainda mais luminar


terça-feira, 10 de agosto de 2010

Voo sobre o Tsunami


Deram-se as mãos. A grande onda se aproximava,imperiosa. A areia molhada e fria sob os pés. Mas ele estava ao seu lado e a olhou sorrindo. Um sorriso cheio de paz. A abraçou ternamente e ela o amou como nunca amara antes. Sem o mínimo esforço ele alçou seu voo levando-a com ele. E ela sentiu seu calor,sua força,sua beleza. Planaram sobre as águas revoltas inundando o vasto continente num espetáculo tão belo quanto devastador. A implacável lei da vida.Sentiu-se leve,tocada por uma luz,uma felicidade plena. Serena,deixou-se levar por seu amado,rumo ao infinito.








terça-feira, 3 de agosto de 2010

Naturalmente...


Virou carranca

Estática

Peça decorativa

No canto da sala

Outrora,sorria

Vivia

Até ser consumida

Pelo mesmo

Pelo nada



quarta-feira, 14 de julho de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Flores de Inverno




Olhar para as árvores, para suas copas quase nuas filtrando os raios de luz de um dia de céu estupidamente aberto.
Olhar para as flores que pipocam nos galhos sem folhas e enfeitam este inverno seco e claro de temperaturas amenas.
Flores que pontuam o azul feito estrelas e que soltam suas pétalas derramando lamentos sobre as calçadas. Tal qual estrelas cadentes.
São persistentes. Insistentes. Sobreviventes.
Bravas e belas flores de inverno que desafiam a primavera!
É para elas que eu olho.




quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ata-me!


Pérfida criatura
Que me toma de assalto
E me acorrenta à sua nau
E me atormenta
Entre tormentas
De prazeres
Crueldade
"...me diz,por onde você me prende?"
Donde vêm tantos poderes?
Do seu olhar flamejante?
Das suas garras lancinantes?
Ai, a quem engano?
Vêm do seu fascínio
As minhas dores




quinta-feira, 3 de junho de 2010

Versos Órfãos




Você levou minha inspiração
Meu atrevimento,minha ousadia
Ando sem graça,estagnada
Em estado de apatia
Meus versos estão pobres
Órfãos,descoloridos
Já não voam tão alto
São versos sofridos
Minha prosa sem alma
Não agrada a ninguém
Não canto mais o amor
Assim não valho um vintém
Volte,meu amor.Apareça!
Não vê que minha arte padece?
Volte,nem que seja por caridade
Ou mera filantropia














terça-feira, 18 de maio de 2010

sábado, 8 de maio de 2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

Imigrante


Um novo mundo de incertezas
Para terras tão distantes parto
Tenho cá minhas ilusões
Vou com meu amor
No ventre, nosso fruto
No navio há de nascer
Um filho do Atlântico!
Tenho cá,também,apreensões
Quanta saudade sentirei
Da minha Madeira querida
Que falta me fará,ó mãe
Tuas cantigas!
Dos doces fios de ovos
Das missas e Marias
Dos fados e quadrilhas
Quanta saudade sentirei!
Mas tenho cá a esperança
Bons ventos hão de me levar
Boas venturas hei de encontrar
Da luta jamais fugi
Do trabalho nunca tive medo
Parto,pois,com coragem
Mesmo que seja a saudade
O preço a pagar
Pela vida que escolhi.



Homenagem à minha avó Antonia, que teve o primeiro de seus oito filhos, a bordo de um navio, a caminho do Brasil.





***

domingo, 25 de abril de 2010

Na Companhia das Sombras


Não se sentia um solitário, tinha em suas sombras, vasta companhia.
Com elas conversava, dançava...
E dele todos riam e apontavam: doido varrido!
Magoado e cansado de tanta incompreensão, fez as malas e levou consigo suas sombras.
Mas com ele foram todas as outras e, naquele longínquo lugar, nunca mais alguém faria sombra.
Nem mesmo as frondosas árvores, nem mesmo as inocentes crianças.
Perderam,assim, as suas almas, pois, a capacidade de sonhar já haviam perdido desde sempre.




sábado, 17 de abril de 2010

O Convento


Queria transpor os altos muros. De lá,em meio às dunas,só podia ouvir-lhes o canto. Vozes maviosas! Dulcíssimas vozes!

E ficava a imaginá-las,virgens santificadas! E ele,entregue às armas,refém de todos os ódios!

E alimentava-se delas, de sua pureza e candura. E sentia-se,ele próprio,purificado. E,por ora, isso lhe bastava para limpar suas mãos do sangue que derramava, a cada batalha, na defesa de um reino que,por fim, nem amava.

Um dia,iria transpor os altos muros e a elas entregaria, de bom grado, sua vida,sua alma.





domingo, 4 de abril de 2010

Violino Vermelho


Da seda dos teus cabelos
Teci suas cordas
O verniz escarlate
Apurei do teu sangue
Minha amada!
Nos seus acordes
Para o meu deleite e consolo
Para todo o sempre
Viverá tua alma!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Carta à Mulher Amada


Você sempre me amou mais do que eu a você. É o que todos dizem...

Quanta arrogância, digo eu. O que sabem eles? E você? Você que vive a me pedir provas de amor.

Será que você não percebe? Não sente? O que você quer ouvir, afinal? O que mais?

Não espere juras de amor, não conte com isso. Não vou me lembrar de lhe enviar rosas, não vou dizer que a amo quando estiver distraído enquanto você tentar me transmitir seus anseios telepaticamente!

Não espere que todas as noites sejam românticas, jantares a luz de velas. Não lhe escrevo bilhetes, nem sempre me lembro do seu aniversário.

Lembro-me de você no finalzinho do dia, quando o Sol se deita no horizonte, avermelhando tudo. Geralmente estou parado no trânsito, cansado. Mas quando olho pela janela do carro e me encanto com aquelas cores inundando o céu desta cidade cinzenta, me lembro de você.

Lembro-me de você quando sinto cheiro de hortelã, quando bebo água fresca! Quando coisas boas me acontecem, me lembro de você.

Lembro-me de você quando sinto angústia, quando quero colo, quando tudo dá errado! Lembro-me de você...

Lembro-me de você quando vejo casais se amando, quando vejo casais brigando. Lembro-me de você quando alguém mata por amor.

Quando vejo aquele bando de crianças barulhentas saindo do colégio, me lembro de você. Quando olho para uma mulher bonita, me lembro de você.

Quando bebo com os meus amigos, quando vejo meu time jogar. Até quando visito a minha mãe, me lembro de você!

Você está em meus sonhos, está até em meus pesadelos. É por você que volto à adolescência, se é que você me entende. Sim, é em você que eu penso...

Não vou terminar esta carta dizendo"eu te amo"...

Não é necessário.

Mas, se ainda assim, você não entender, então, quem não sabe o que é amor é você.




terça-feira, 30 de março de 2010

Versos Livres


Saem por aí,sem escrúpulos

Descarados

Despudorados

Sem eira,nem beira

Sem ritmo,sem cadência

Audazes,ousados

Abusados

Irritam,provocam

Excitam

Incitam

Versos menores

Vagabundos

Encarniçados

Triviais

Banais

Amorais

Explícitos

Transparentes

Por vezes,

Inconvenientes

Endiabrados

E

Benditos

Versos

Alados





quarta-feira, 24 de março de 2010

O Trem

Acomodou-se no camarote. De bagagem levava apenas uma maleta de mão. Estava realmente cansada. Física e emocionalmente. Ansiava pelo chacoalhar do trem, só queria fechar os olhos e descansar. Rezava para que ninguém mais ocupasse o aposento. Não queria dividir sua dor, não podia.
Lembrou-se da última viagem que fizera ao lado dele. E dela. Olhou para o banco vazio à sua frente. Podia vê-la ali sentada, sorridente. Ele, ao seu lado, embora segurasse a sua mão, dava a ela toda a sua atenção. Ciúme sempre sentiu mas tentava ser compreensiva, paciente. As pessoas mais chegadas diziam que seria bobagem tentar afastá-los e, afinal de contas, seria uma maldade fazer intrigas entre dois irmãos. O que não sabiam ou não entendiam era a influência nefasta que ela exercia sobre ele. Tolos que não enxergam! Rebeca, sua fascinante cunhada que já havia recusado mais de uma dezena de pedidos de casamento, dos mais influentes e cobiçados cavalheiros da província. Sua beleza exótica e radiante já causara até duelos e mortes. E ela parecia se divertir muito com tudo isso.
Um homem parou à porta do camarote e a tirou de seus pensamentos. Cumprimentou-a ,cordialmente, tirando o chapéu. Sentou-se à sua frente tentando não desabar com seu pesado corpanzil. Ela o observou e lamentou profundamente a sua presença. O homem ajustou os pequenos óculos redondos e sorriu, amável. Ela retribuiu com má vontade.
O trem, finalmente, se pôs em movimento depois de um longo apito que mais parecia um lamento. Sua mente voltou novamente ao passado. Um passado recente, apenas algumas semanas atrás. Olhava pela janela, via passar as montanhas com os picos nevados que tanto a encantaram, a sua vida toda. Vida. Que vida teria agora?
Chovia muito quando chegou em casa. A sombrinha não dera conta de tanta água e vento forte. O vestido encharcado e pesado lhe irritava, subiu as escadarias com dificuldade já soltando os cabelos molhados, louca para se livrar de toda aquela mortalha. No corredor já ouviu os gemidos, os gritos histéricos de Rebeca, suas gargalhadas. Não teve coragem de abrir a porta do próprio quarto.
Sentiu novamente a mesma repulsa, o mesmo ódio, a mesma fúria. Flagrou-se apertando o próprio chapéu entre as mãos, apertando o maxilar, rangendo os dentes. Tratou de se acalmar, não estava sozinha e aquele homem não lhe tirava os olhos.
Não lhe restava mais nada. Nem sua dignidade. Curiosamente, não havia chorado em nenhum momento. Nenhum momento. Abriu a janela e respirou o ar gelado que entrava. Tentou decifrar os cheiros que sentia. Então, lhe ocorreu. Quanto tempo levaria para que descobrissem os corpos?
Foi quando o simpático cavalheiro a chamou pelo nome e mostrou-lhe seu distintivo.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Acaso Escrito nas Estrelas


Simplesmente resolveu enforcar o resto do dia. Não voltou para o escritório após o almoço.Não sabia direito o que fazer, só estava com vontade de "vadiar".Quando viu que aquele filme que ela amava estava em cartaz no pequeno cinema ,pertinho do restaurante,achou que os deuses conspiravam alguma coisa. Sentou-se na última fileira. Queria ficar sozinha. Curtir o filme que já conhecia tão bem mas não se cansava de rever. Sempre se emocionava e descobria algo de novo nas mesmas cenas.

Apagam-se as luzes,sensação boa. Respira fundo, acomoda-se melhor. Surgem as primeiras cenas,paisagens bucólicas, a música maravilhosa.

Magnetizada pelo filme,não percebe o vulto se aproximar. Apenas o descobre quando sua poltrona estremece ligeiramente. O sujeito senta-se a uma distância de três lugares.

Fica um pouco irritada. O cinema praticamente vazio, que inconveniente!

Ele cancelou a viagem no último momento. Bateu uma baita preguiça de ir para aquele congresso. E,curiosamente,não sentiu um pingo de culpa. Logo ele,sempre tão dedicado! No caminho do aeroporto pra casa resolveu mudar de rumo. Lembrou-se de um aconchegante shopping onde havia um café que costumava frequentar tempos atrás. Um cappuccino,agora,cairia bem.

Relaxou por algum tempo e resolveu caminhar. Sentia-se bem e ,afinal, quando teria outra oportunidade pra fazer nada?

Viu o cartaz do filme no pequeno e charmoso cinema. Deu-se conta que ainda não tinha visto o dito cujo. O que as mulheres tanto gostam nesse filme,afinal?

Entrou pela sala escura,o filme já havia começado. Foi tateando ,meio cego, até chegar à última fileira. Queria ficar sozinho.

Só percebeu que havia mais alguém ali quando sentiu um perfume almiscarado. Que droga! O cinema praticamente vazio,tanto lugar pra escolher!

Na tela, a atriz explode numa gargalhada com as flores falsamente venenosas nas mãos. Subliminar sensualidade. Extasiados, os dois sorriem. A cena os conecta e se olham pela primeira vez ,iluminados pela resplandecente fotografia do filme.

Então,tudo fez sentido.



segunda-feira, 1 de março de 2010

Triângulo


Seus olhos negros,olhos negros...


Não estava atormentado,tampouco arrependido. Também não estava exatamente feliz. Aliviado,talvez,o descrevesse melhor.Sorriu.

Entrou no quarto escuro tentando não fazer barulho. Tirou a roupa toda enquanto a olhava,deitada,dormindo profundamente. Sentou-se na poltrona que era dela. Observou a silhueta que se desenhava por baixo dos lençóis,sabia-a nua,sempre dormiam totalmente nus. Admirava-a. Fêmea. Curvas.

Sorriu novamente ao tentar contabilizar quantas vezes já havia tomado aquele corpo para si. Não havia centímetro um do outro que não conhecessem.

Se ela pudesse entender,ele contaria. Incomodava-o,enganá-la. Quando viu Joana,porém,sabia que ia acontecer. Tão certo quanto o Sol se pôr.

Não fora a primeira vez. E não seria a última. Sabia do seu poder sobre as mulheres. E não resistia ao ímpeto com que algumas o caçavam. E aquele aro na mão esquerda que mais parecia atrair do que repelir. Mas ele bem que tentava,não era sempre que sucumbia. Há séculos estava sossegado. Até surgir Joana.

Joana e seus olhos,olhos negros. Joana e seu sorriso. Mais do que isso, sua gargalhada solta,safada. Seus peitos,lindos,que arfavam enquanto ela ria.

Ainda jogado na poltrona ,olhando para Mônica,repassou em sua mente cada minuto vivido há poucas horas. Podia quase sentir de novo em seu corpo, o calor da outra.Possui aquela mulher com tal selvageria,com tanta fome, quase com raiva. E ela pagou-lhe na mesma moeda,esfomeada. E como foi bom,não podia negar. Afinal,não era hipócrita.

Devassa...Mas não era sua linda Mônica,também,uma devassa? E só sua. Numa mesa de bar,entre amigos,um olhar mais demorado telegrafava tudo. Havia ensinado tantas coisas a ela e como aprendeu também! Como ela o surpreendia,às vezes. Nunca sabia quando ela o comeria,quase literalmente,senhora do castelo. Ou quando se deixaria possuir tão completamente,o que o deixava maluco,com vontade de virá-la do avesso. Nunca precisaram de joguinhos,apetrechos,nada além um do outro. Nutriam uma coisa rara,intimidade. E essa intimidade era o pilar,dali podiam tudo. E tudo faziam. Sem limites,sem regras,sem culpas,sem cobranças.

Então, por que Joana?

... porque sim.

Levantou-se,leve como pluma,deitou-se ao lado dela e a abraçou com ternura, envolveu um dos seu seios com uma das mãos,como sempre fazia. Adormeceu sentindo o perfume dos seus cabelos. Morreria por ela.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Redenção


E a redenção lhe veio

Através da dor

E foi feliz ao sofrer

E chorou

Chorou até não mais poder

E carregou nos braços

O irmão

Que tanto odiou

E quanto mais pesado o fardo

Quanto mais longa a escalada

Mais purificado

Por fim aliviado

Enfim, por si mesmo

Perdoado



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Juras de Amor


Quando cruzei com teus olhos senti-me nula


Por um instante deixei de existir


Respiraste meu ar, roubaste meu chão


Pousaste tua mão sobre mim, domaste meu ego, fizeste-me tua


Possuída, entregue, submissa


Irremediavelmente perdida


És meu mundo, morte e vida


És tudo, ao menos por hoje...


Pois não sei com que olhos cruzarei amanhã






sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Insano Poeta


Insano poeta que derrama suas dores,seus amores

Que verseja sem pudores!

Trovador inconformado,rebeldia desmedida

Voz dos renegados!

Insano poeta maldito

Que destila inconvenientes verdades

Dilacera,rasga o peito

Mas não se cala,jamais se verga!

Insano poeta que chora

Que grita aos quatro ventos

Que morre a cada verso

E em seguida renasce!

Liberdade!

Desvairado poeta

Como invejo sua insanidade!





domingo, 17 de janeiro de 2010

Furacão

Chega assim, quebrando tudo
Deixa tudo revirado
Abala as estruturas
Manda tudo pelos ares
Redefine os caminhos
Disforma, transforma, arrebata
Ah, mas que se dane!
Pois que venha!
Recolho os cacos
Faço um mosaico!